quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A tentação

Zona M

Os milhões regularmente rejeitados pelo Sporting à nuvem de propostas que encobre o céu de Alcochete logo que um dos meninos realiza dois ou três bons jogos seguidos, dariam para ressuscitar as contas leoninas. Em menos de três anos, Miguel Veloso já esteve "em cima da mesa" de meia dúzia de clubes ingleses, "referenciado" por italianos, "perguntado" por espanhóis - sempre emblemas de carteira grande, mas desportivamente de segunda ou terceira linha.

Manchester City, Fiorentina ou Atlético Madrid podem ser nomes reconhecíveis num meio tão mediatizado à escala europeia, mas hoje ainda mais longe da conquista de títulos do que o Sporting, independentemente de participações episódicas na Liga dos Campeões. Miguel Veloso e o clube resistiram bem a algumas investidas, chegando a declinar uma proposta concreta do Bolton, ainda antes da crise financeira, com o jovem a mostrar a autoestima de se projetar em cenário mais ambicioso.

Ao mesmo tempo que fazia medrar uma corte de seguidores, a marca de Miguel Veloso projetou-se como expoente máximo do conceito de futebolista "comercial", sempre em perigo de se perder nos confins das tabelas classificativas, como aconteceu a outras talentosas promessas, algumas das quais de forma irrecuperável.

As experiências têm confirmado que poucos jogadores desenvolveram a maturidade que lhes permita projetar com frieza o futuro a perseguir, sobretudo se sujeitos a grande pressão mediática. O perigo de trocar um grande de Portugal pela modéstia competitiva de um Betis ou de um Tottenham, a troco de verbas tentadoras, pode simplesmente significar o fim de uma carreira ao mais alto nível. Mas também o convite irrecusável de um grande da Europa representa geralmente um passo maior que a perna.

Em ano de Mundial, o grande motivo da movimentação do mercado intercalar de janeiro é o medo de alguns grandes jogadores virem a ser excluídos das convocatórias para a África do Sul, por não conseguirem jogar regularmente. Embora nenhum dos clubes que surge no caminho de Miguel Veloso tenha um padrão de exigência superior ao Sporting, são muito baixas as probabilidades de ele ter sucesso imediato em Inglaterra, Espanha ou Itália. Quase impossível, mesmo.

As mais-valias que tal transferência poderia gerar nestes tempos de vacas magras dariam seguramente muito jeito a Carlos Carvalhal para prosseguir com toda a garra a nova e estimulante política de amedrontamento dos adversários. Ao jogador, a vertigem da promoção financeira e o estatuto de emigrante de luxo ajudariam a realizar prontamente um sonho de vida. E os intermediários envolvidos não perderiam tempo valioso.

Especulações à parte, para jogadores como Miguel Veloso, com valor comercial muito elevado, todos os períodos de mercado são penosos testes à personalidade. Resistir aos assédios e evitar cair numa equipa fraca, perdendo espaço na cena internacional, como tem acontecido a tantos novos-ricos da nossa diáspora futebolística, são os desafios que este e outros jovens de elevado potencial enfrentam, a seis meses do termo de uma época que lhes pode dar a maior projeção internacional. Basta ter paciência e visão.

Autor: JOÃO QUERIDO MANHA
Data: Terça-Feira, 5 Janeiro de 2010 - 18:17, In Jornal record Online

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